Durante anos, o mercado de criptomoedas viveu em ciclos previsíveis. Primeiro, o Bitcoin abria caminho, impulsionado pela narrativa de escassez digital e pela confiança crescente de investidores institucionais. Depois, as altcoins surgiam como o campo fértil da especulação, prometendo inovações, novos casos de uso e uma multiplicação de ganhos que só o mundo cripto parecia capaz de entregar. Esse padrão se repetiu tantas vezes que se tornou quase uma crença ritual. Mas o cenário de outubro de 2025 desafia essa lógica: o Bitcoin voltou a dominar, com força renovada, e a altseason parece mais uma lembrança distante do que uma promessa iminente.
Nas últimas semanas, o preço do Bitcoin ultrapassou a marca histórica de 125 mil dólares, consolidando uma valorização de mais de 11% apenas em sete dias. O número é mais que simbólico: ele empurra a dominância do ativo para 59% de todo o valor de mercado das criptomoedas, o maior nível em três semanas. Por trás desse avanço, há um rearranjo silencioso de capitais, uma migração coletiva em direção ao ativo que ainda dita as regras do jogo. E esse movimento diz mais sobre a psicologia do mercado do que qualquer gráfico.
Parte da explicação está nos fundamentos de sempre. A liquidez global está se reacomodando após a desaceleração dos juros nos Estados Unidos. Grandes fundos voltaram a aumentar exposição a ativos de risco, e o Bitcoin, que por muito tempo foi visto como um experimento marginal, hoje ocupa o papel de “porto seguro digital” dentro da própria volatilidade do mercado. Stephen Gregory, fundador da plataforma Vtrader, descreveu o movimento com clareza: o desbloqueio de um bilhão de dólares em fundos congelados da falida FTX e o aumento do valor total dos stablecoins em circulação, que chegou a 300 bilhões, criaram um ambiente de influxo imediato de capital. Esse dinheiro encontrou no Bitcoin o primeiro destino lógico.
A lógica é simples e antiga: quando o ciclo começa, o capital institucional procura liquidez, segurança e narrativa. E, nesse triângulo, o Bitcoin é o vértice mais sólido. Shivam Thakral, CEO da exchange indiana BuyUcoin, sintetizou essa percepção dizendo que os investidores correm para o Bitcoin no início de cada ciclo de alta, porque ele é o “âncora do mercado”, o ativo que simboliza o início de um novo movimento de confiança coletiva. Gracy Chen, CEO da Bitget, foi ainda mais direta ao afirmar que o aumento da dominância é um “sinal claro de que o capital está retornando para o ativo mais confiável do mercado, em meio a uma nova onda de demanda institucional”.
Mas a confiança tem um preço. A cada dólar que entra no Bitcoin, outro deixa de circular nas altcoins. Esse efeito dominó é o que reacende a velha dúvida: estamos diante do renascimento de um ciclo clássico, em que o Bitcoin sobe primeiro e arrasta o resto depois, ou desta vez a altseason simplesmente não virá?
A resposta, segundo especialistas, é mais complexa do que parece. Stephen Gregory, o mesmo que apontou o influxo de capital, acredita que a dominância do Bitcoin ainda não atingiu o teto. Se ultrapassar 60%, a concentração de valor pode provocar uma nova correção, um “bear trap” que expulsaria posições alavancadas e redistribuiria liquidez de forma abrupta. Mas, se o movimento estabilizar, ele abre espaço para um novo giro de capitais em direção às altcoins. Em outras palavras, a altseason não morreu, apenas está sendo adiada.
Essa tese encontra eco em diferentes regiões. Em mercados asiáticos e europeus, investidores de varejo têm voltado gradualmente a acumular tokens de setores específicos, como inteligência artificial, finanças descentralizadas e redes de segunda camada. Esses nichos têm crescido de forma orgânica mesmo sob o domínio do Bitcoin. Para Gracy Chen, o que virá a seguir não será uma altseason ampla e caótica, como a de 2021, mas uma rotação seletiva, em que o dinheiro fluirá apenas para projetos sólidos e com utilidade comprovada. Segundo ela, “uma verdadeira altseason ainda está a algumas semanas de distância, e começará quando o Bitcoin consolidar acima de 120 mil e sua dominância recuar para a faixa de 55%”.
Esse ponto técnico, aparentemente arbitrário, carrega um significado psicológico profundo. A dominância do Bitcoin é o termômetro da confiança e do medo. Quando ela cresce demais, significa que o mercado está buscando refúgio. Quando cai, indica que os investidores estão dispostos a correr mais riscos. É uma métrica simples, mas que traduz o humor coletivo melhor que muitos indicadores sofisticados. Em setembro, por exemplo, o índice de dominância chegou a 67%, impulsionado pelo receio de que a alta do Bitcoin fosse apenas um movimento especulativo isolado. Agora, o mesmo indicador serve como bússola para identificar quando o capital começará a buscar alternativas.
O que os números não mostram é o quanto esse movimento é também cultural. A ideia de “altseason” nasceu com o ethos da descentralização e da diversidade de narrativas. Cada nova altcoin representava uma aposta no futuro: novas blockchains, novos modelos de governança, novas formas de finanças. Mas o tempo e a seletividade do mercado trataram de filtrar o entusiasmo. Hoje, o ecossistema amadureceu. As promessas fáceis deram lugar a perguntas duras sobre sustentabilidade, liquidez e modelo de negócio. E, nesse contexto, o Bitcoin reaparece não como inimigo da inovação, mas como o filtro natural da euforia.
Le Shi, diretor da Auros, empresa de trading algorítmico, vê esse momento como um sinal saudável. Em entrevista recente durante o evento Token2049 em Singapura, ele afirmou que “a dominância do Bitcoin é o reflexo de um mercado em transição para uma maturidade maior”. Para ele, o foco temporário no Bitcoin ajuda a limpar o excesso de alavancagem, reduz a especulação desordenada e cria as condições para um novo ciclo de crescimento mais equilibrado. “É um bom momento para o mercado, e deve continuar assim no curto prazo”, concluiu.
No fundo, essa dinâmica expressa uma tensão antiga entre centralização e dispersão. O Bitcoin, com sua estrutura simples e previsível, representa a força centrípeta da confiança. As altcoins, com sua multiplicidade de propósitos e riscos, simbolizam a força centrífuga da experimentação. O equilíbrio entre as duas é o que mantém o ecossistema vivo. E cada vez que o Bitcoin assume o controle, o mercado inteiro se reorganiza em torno dele, apenas para, mais tarde, tentar escapar de novo.
Essa dança entre dominância e diversificação também reflete uma mudança geopolítica mais ampla. O avanço das stablecoins e a entrada de grandes bancos no universo dos criptoativos trouxeram uma nova camada de legitimidade. Hoje, instituições como BTG Pactual, BlackRock e Fidelity tratam o Bitcoin como reserva digital, enquanto plataformas descentralizadas continuam a expandir a fronteira da inovação. É um duplo movimento de institucionalização e resistência, em que o Bitcoin se torna a face pública da confiança e as altcoins o laboratório subterrâneo da criatividade.
Nesse contexto, o conceito de “altseason cancelada” parece mais uma provocação do que uma realidade. O que existe é um novo tipo de ciclo, menos binário e mais orgânico, no qual o capital se move de acordo com maturidade, liquidez e propósito. A especulação ainda existe, mas está sendo moldada por critérios mais sofisticados. Um exemplo disso é o crescimento recente dos setores de inteligência artificial descentralizada e tokenização de ativos do mundo real. Ambos atraem investidores institucionais que buscam algo além da aposta puramente especulativa, enxergando valor em soluções que conectam blockchain à economia tangível.
Mesmo assim, há sinais de que a próxima rotação pode estar mais próxima do que parece. Dados da plataforma Myriad indicam que a probabilidade de o Bitcoin ultrapassar 64% de dominância caiu de 69% no início do mês para cerca de 60%. Essa inflexão pode ser o primeiro indício de que parte do capital já começa a se reposicionar, antecipando uma fase de redistribuição. A história mostra que esse tipo de movimento raramente acontece de forma ordenada. Quando a confiança muda de direção, o mercado inteiro se move como uma maré.
Ainda assim, a lição mais importante talvez seja outra: o Bitcoin não anula a altseason, ele a redefine. O que estamos vendo é menos uma disputa e mais uma relação simbiótica. Sem o Bitcoin, o mercado perde seu norte. Sem as altcoins, perde sua vitalidade. É dessa tensão que nascem as inovações e as narrativas que mantêm o ecossistema pulsando. O domínio do Bitcoin, longe de ser um problema, é a pausa que permite que o sistema respire antes de avançar novamente.
O futuro próximo ainda reserva volatilidade. O ritmo das aprovações de ETFs, as decisões do Federal Reserve e a adaptação das grandes corporações financeiras ao ambiente on-chain definirão os contornos do próximo ciclo. Mas uma coisa é certa: o papel do Bitcoin como força gravitacional do mercado nunca foi tão evidente. Ele é o eixo em torno do qual tudo gira, o símbolo que ancora a confiança coletiva enquanto o restante do ecossistema busca seu próprio caminho.
No fim das contas, talvez o verdadeiro significado de “altseason cancelada” não esteja em saber se as altcoins vão subir ou não, mas em entender que o mercado amadureceu o bastante para não depender mais de modismos cíclicos. A nova fase do cripto não será definida por temporadas de euforia, mas pela consolidação de fundamentos. A corrida agora não é por multiplicar ganhos, e sim por construir relevância. O Bitcoin lidera, como sempre, mas a verdadeira revolução está em como o restante do mercado reage a essa liderança.
Se a história serve de guia, toda dominância tem seu limite. E quando a confiança estiver novamente espalhada, as altcoins ressurgirão com outra forma, mais maduras, mais conectadas ao mundo real, menos dependentes de hype e mais ligadas à utilidade. Até lá, o Bitcoin segue reinando absoluto, lembrando a todos que, no mercado cripto, o poder nunca é estático. Ele apenas muda de mãos, em ciclos que continuam a se repetir, não por acaso, mas por natureza.
Aviso Legal
Este artigo é apenas para fins informativos e não constitui aconselhamento financeiro. Investir em dólares ou produtos relacionados envolve riscos.
Pergunta Interativa
Interessado em se manter atualizado com as últimas tendências e oportunidades no mundo do dólar em 2025? Abra sua conta na Coins.xyz agora e fique por dentro das inovações mais recentes do mercado!
👉🏼 Cadastre-se aqui
Redes Sociais da Coins.xyz
Conecte-se Conosco:
Twitter: https://x.com/coinsxyzbrasil
Instagram: https://www.instagram.com/coinsxyzbrasil/
Facebook: https://www.facebook.com/coinsxyzbrasil
LinkedIn: https://www.linkedin.com/company/coins-xyz
TikTok: https://www.tiktok.com/@coins.xyzbrasil