Quando o meio é confundido com o produto
Imagine uma época em que o terminal da Bloomberg era uma caixa física, pesada e barulhenta, posicionada entre telefones e máquinas de carimbo em uma mesa de trading. Muitos acreditavam que aquele equipamento era o produto em si, o símbolo do poder informacional. Mas Michael Bloomberg sabia que o valor não estava na caixa, e sim no que ela entregava: dados, notícias e capacidade de decisão. Quando o hardware desapareceu e tudo virou software, o produto continuou o mesmo, apenas o meio de entrega mudou.
Essa confusão entre meio e finalidade é antiga, a Kodak acreditava que vender rolos de filme era seu propósito, quando na verdade seu produto era a memória preservada. As gravadoras pensavam que vendiam CDs, mas o que o público queria era música e os jornais imaginavam que o valor estava no papel impresso, embora o verdadeiro produto fosse a informação e a publicidade. O erro, em todos esses casos, foi o mesmo: confundir o canal com o conteúdo, o invólucro com a essência.
A armadilha conceitual do mundo cripto
Agora, talvez o mundo cripto repita esse equívoco porque há quem olhe para blockchains como produtos e não como infraestrutura, acreditando que o valor esteja no código, na velocidade dos blocos ou na quantidade de tokens emitidos. No entanto, seguindo a lógica de Bloomberg, a blockchain é apenas o meio, o produto verdadeiro é o que ela entrega: confiança, coordenação e acesso.
Esse é o ponto no qual muitos se perdem. O Bitcoin, para uns, é uma reserva de valor digital, o ouro da era computacional, para outros, é um mecanismo de resistência contra censura e centralização. O mesmo ocorre com a Ethereum, que para alguns vende espaço de bloco, para outros representa um ativo financeiro, e para outros ainda é a rede que hospeda o futuro dos ativos do mundo real. Cada uma dessas leituras tem legitimidade, mas todas compartilham um mesmo engano: tratar o mecanismo como mercadoria.
O verdadeiro produto: confiança programável
Bill Gates dizia que é preciso manter o principal como o principal. O que as blockchains vendem não é código, é confiança programável. Assim como o e-mail não era o produto, mas o canal que reinventou a comunicação, a blockchain não é o destino final da inovação, é o meio que redefine como valor e propriedade circulam no mundo digital. É a infraestrutura invisível que torna possível criar, trocar e coordenar sem pedir permissão.
Estradas, não veículos
Dessa forma, blockchains são mais parecidas com estradas do que com veículos. Elas não transportam pessoas, apenas possibilitam o movimento. Dentro dessa analogia, o Bitcoin é a primeira rodovia global da confiança, onde o tráfego é de valor, e não de carros.
Velocidade não é produto
Alguns projetos compreenderam isso melhor do que outros. Solana, por exemplo, se define pela velocidade e pela busca de eficiência, mas velocidade, por si só, não é produto. Netflix e Blockbuster entregavam o mesmo conteúdo, os filmes, embora por meios diferentes. As pessoas migraram para a Netflix não porque o streaming era mais elegante, mas porque o conteúdo estava ali, acessível e imediato. O meio venceu por entregar melhor a experiência.
O mesmo ocorre com as blockchains. O que torna uma rede valiosa não é o algoritmo nem o preço do gás, mas o ecossistema de valor que ela abriga. Solana só importa porque há tokens úteis, comunidades ativas e liquidez real. O que faz de Wall Street o centro financeiro do planeta não é a velocidade das bolsas, e sim a qualidade dos ativos negociados.
Do código à coordenação
Mike Cagney, da Figure, afirmou que sem ativos digitais nativos, uma blockchain é apenas tecnologia vazia. Se o produto não for o código, ele deve ser o que o código viabiliza, e isso significa propriedade, coordenação e pertencimento digital.
Essa é a virada conceitual que o mercado precisa absorver. A blockchain é o novo sistema circulatório da economia, e o sangue que ela move é o valor, que nasce da confiança. Por isso, o verdadeiro produto da blockchain não é o token nem o hype das aplicações descentralizadas, mas o tipo de relação social que ela possibilita: uma relação em que regras substituem hierarquias e verificações substituem promessas.
A confiança como fundamento
Por trás de toda essa estrutura há uma ideia profundamente humana. A blockchain devolve algo que as instituições haviam monopolizado, a capacidade de confiar sem intermediários. Cada bloco validado é uma assinatura coletiva dizendo “nós concordamos”, e esse consenso se torna o cimento de uma nova economia baseada na transparência.
No entanto, existe um risco. Quando cada projeto tenta ser tudo ao mesmo tempo — dinheiro, infraestrutura, comunidade e aplicação — dilui-se o sentido original. A obsessão por métricas técnicas pode ofuscar o que realmente importa: a confiança verificável e o acesso sem permissão. É por isso que o futuro das blockchains será determinado menos pela tecnologia e mais por quem entender o que realmente está sendo entregue.
O produto invisível
Voltando à lição de Bloomberg, fica claro que blockchains são apenas o meio. O produto é o que viaja por elas. O que está sendo vendido não é software, é soberania digital. Não é descentralização como conceito, é coordenação como prática.
No fim das contas, o verdadeiro produto da blockchain é o mesmo que sempre moveu as civilizações: confiança. Só que, desta vez, escrita em código, armazenada em blocos e distribuída por toda parte.
Aviso Legal
Este artigo é apenas para fins informativos e não constitui aconselhamento financeiro. Investir em dólares ou produtos relacionados envolve riscos.
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