A sazonalidade que assombra setembro
Existe um certo fascínio em como os mercados parecem obedecer a padrões sazonais quase supersticiosos. Em Wall Street, setembro é tradicionalmente o mês mais fraco do ano. No universo cripto, a fama é ainda mais cruel: o chamado “Setembro Vermelho” virou sinônimo de quedas, liquidações em cascata e expectativas frustradas. E em 2025, o roteiro não foge da tradição.
Após um início animador, em que o Bitcoin registrou sua segunda melhor performance de setembro em treze anos, o mercado devolveu tudo. Mais de 160 bilhões de dólares evaporaram em uma única semana, empurrando novamente o valor total das criptomoedas para território negativo. O que poderia ter sido um mês de virada se tornou mais um capítulo da maldição sazonal.
Os motores do ciclo: calendário e alavancagem
Mas veja bem: não estamos apenas diante de uma coincidência estatística. Há razões estruturais que explicam esse ciclo. De um lado, o calendário institucional. Grandes fundos ajustam carteiras após as férias de verão, realizam lucros e se preparam para o encerramento do ano fiscal. Esse movimento de reequilíbrio pesa de forma desproporcional sobre ativos considerados mais arriscados. Do outro lado, o comportamento específico do investidor cripto, ainda muito pautado por alavancagem. Quando um ativo como o Ethereum rompe um nível psicológico, neste caso os 4.000 dólares, liquidações automáticas em centenas de milhões de dólares se espalham pelo sistema, criando uma reação em cadeia.
O efeito dominó de setembro
Foi exatamente isso que aconteceu em setembro. O rompimento para baixo do Ethereum acionou meio bilhão em liquidações. Esse efeito dominó puxou altcoins para baixo, reduziu a confiança e fez com que investidores buscassem refúgio na única âncora possível, o próprio Bitcoin. O resultado foi um recuo brusco do chamado Índice de Temporada de Altcoins, que mede a rotação de capital entre o BTC e o restante do mercado. De 77 pontos, caiu para 69 em questão de dias, sinalizando fuga para a segurança relativa do Bitcoin.
A ironia do “porto seguro”
Agora, repara só na ironia. Esse “porto seguro” não é exatamente seguro. O Bitcoin ainda registra um ganho de pouco mais de 1% no mês, o que tecnicamente o mantém acima da linha vermelha. Mas esse ganho é tão frágil que qualquer pressão vendedora pode reverter a narrativa em questão de horas. E como o Bitcoin representa 67% da capitalização do mercado cripto, basta um pequeno tropeço para tingir de vermelho não apenas setembro, mas também a confiança de milhões de investidores.
Profecia autorrealizável
É nesse contexto que entra a dimensão psicológica da maldição. A repetição histórica cria uma espécie de profecia autorrealizável. Investidores esperam quedas em setembro, logo vendem mais rápido diante de sinais de fraqueza. As vendas aceleram, confirmando o padrão. Assim, o calendário, que deveria ser apenas um dado, se transforma em gatilho emocional. Setembro vira um fantasma que assombra traders, amplificando a volatilidade.
Regulação no radar
E não é só o calendário que pesa. Fatores regulatórios adicionam combustível à fogueira. Nos Estados Unidos, uma audiência sobre taxação de cripto marcada para 1º de outubro e uma mesa-redonda conjunta entre SEC e CFTC em 29 de setembro criaram um ambiente de incerteza. Dados históricos mostram que os mercados cripto tendem a cair entre 3% e 5% nas 48 horas que antecedem grandes anúncios regulatórios. Investidores preferem reduzir risco do que enfrentar surpresas negativas. Foi exatamente o que vimos neste mês, saídas de capital em antecipação a notícias que nem haviam acontecido ainda.
Técnicos sem convicção
Por baixo disso tudo, a análise técnica também não ajuda. O Bitcoin mantém um padrão de canal ascendente desde março, o que em tese sugere tendência de alta. Mas os indicadores de momento contam outra história. O Índice de Força Relativa despencou de níveis de sobrecompra para 42 pontos, sinal de enfraquecimento da demanda. O indicador de momentum Squeeze já virou para o campo negativo, sugerindo impulso vendedor. O ADX, que mede a força da tendência, está em 17, muito abaixo do nível de 25 que sinalizaria clareza direcional. Em resumo, o Bitcoin sobe em um canal frágil, sem convicção, vulnerável a qualquer choque externo.
Resistências e padrões de baixa
As tentativas de romper os 115 mil dólares falharam três vezes em setembro. Cada recusa criou topos descendentes, formando um triângulo descendente em prazos curtos. Estatisticamente, esse padrão rompe para baixo em dois terços das vezes. O alvo técnico é 108 mil dólares, nível que, se alcançado, seria suficiente para selar mais um Setembro Vermelho na história.
Um teatro recorrente
Poxa, mas isso não soa quase como uma peça teatral? A cada setembro, o palco se arma com os mesmos personagens, alavancagem, ajustes institucionais, fantasmas regulatórios, quedas técnicas. O roteiro pode variar nos detalhes, mas a trama central se repete.
Uptober à vista?
Ainda assim, os investidores olham para frente com um fio de esperança. Outubro, apelidado de “Uptober”, costuma ser o mês mais positivo para o mercado cripto. O contraste é quase cômico. Se setembro é o mês da maldição, outubro é o mês da redenção. Nos mercados de previsão da Myriad, 68% dos participantes apostam que o Bitcoin conseguirá se manter acima dos 105 mil dólares até o fim de setembro, e muitos acreditam que o próximo mês poderá levar o preço a 120 mil dólares. Não seria a primeira vez que a transição de setembro para outubro funciona como virada de chave psicológica.
Superstições vs. fundamentos
Mas aqui é importante refletir: será que não estamos apenas substituindo uma superstição por outra? Se a crença em setembro vermelho puxa o mercado para baixo, a fé em um Uptober pode criar euforia artificial que não se sustenta. O mercado, afinal, não obedece a calendário, mas a fluxos reais de capital, notícias regulatórias, macroeconomia global e confiança dos participantes.
Risco específico de cripto
Vale aprofundar nesse ponto. O Bitcoin hoje representa não apenas uma moeda digital, mas também um termômetro de apetite por risco global. Enquanto o ouro recuava 1,2% em setembro e o S&P 500 ainda encontrava espaço para ganhos, o mercado cripto sofria. Isso revela uma nuance, os investidores não estão fugindo de risco em geral. Estão fugindo de risco em cripto. Essa distinção mostra que a classe de ativos ainda enfrenta barreiras de confiança que não foram superadas.
O papel da dominância do BTC
O que acontece, então, se outubro realmente trouxer uma reversão? Para os otimistas, seria mais uma prova de que a narrativa da sazonalidade funciona, mas apenas até certo ponto. A verdadeira lição estaria no fato de que os mercados cripto são moldados não apenas por fundamentos, mas também por narrativas compartilhadas. Setembro vermelho, Uptober verde, símbolos que carregam mais peso do que parecem.
Metáfora de uma indústria jovem
No fim das contas, a grande questão é se o Bitcoin conseguirá sustentar o mercado sozinho. Sua dominância mostra que, mesmo em momentos de medo, ele continua sendo a referência. Mas também mostra a fragilidade do ecossistema. Se o mercado depende exclusivamente de uma única criptomoeda para não mergulhar em perdas maiores, isso significa que ainda há um longo caminho até a maturidade.
Quando setembro virar apenas setembro
E é aqui que o “Setembro Vermelho” deixa de ser apenas um dado histórico e se torna metáfora. Ele nos lembra que a cripto, apesar de toda a evolução, ainda vive de ciclos emocionais intensos, dependente da confiança frágil dos investidores. Cada queda vira trauma, cada alta vira êxtase. A sazonalidade talvez seja apenas o reflexo disso, uma indústria que ainda não se libertou do peso da própria juventude.
Talvez, no futuro, quando trilhões em ativos tokenizados circularem em blockchains, setembro seja apenas mais um mês no calendário. Talvez o mercado amadureça a ponto de não temer fantasmas estatísticos. Mas, por enquanto, a maldição permanece. E 2025 não foi exceção.
Aviso Legal
Este artigo é apenas para fins informativos e não constitui aconselhamento financeiro. Investir em dólares ou produtos relacionados envolve riscos.
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